O Espiritismo é uma Doutrina filosófica, de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pois vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, e a vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto não ter culto, rito, templos e, entre os seus adeptos, nenhum recebeu nem tomou o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. (Allan Kardec, Obras Póstumas)
Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)
Base Estrutural do © PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
O REINO
"O jovem carpinteiro nos deu o exemplo do exemplo, ou seja, ensinou-nos, pelo exemplo, que é esta (Amor) a maior força transformadora do Mundo. (...) Todos os que O conhecem sentem-se atraídos por Ele (...) procuremos segui-lO, não como um salvador que nos livra dos pecados, mas como um guia que nos ensina o Caminho do Reino." (Excertos do livro O Reino, JHPires).
O texto abaixo, de autoria de Neide Fonseca (pesquisadora e orientanda do Projeto Estudos Filosóficos Espíritas), foi construído com base no programa das aulas presenciais do VER-Visão Espirita da Religiosidade ). Trata-se de análise informal do conteúdo analógico do livro O REINO, de autoria do prof. José Herculano Pires e orientado pelo Projeto Estudos Filosóficos Espíritas.
Por ser atividade interdisciplinar, também encontra-se no blog http://filosofancocotidoano.blogspot.com :
ASPECTOS QUE CONDUZEM AO ENTENDIMENTO DA IMPLANTAÇÃO DO REINO DOS CÉUS SOBRE A TERRA, CONFORME OS DIZERES DE JESUS.
1. Como José Herculano Pires, no livro “O Reino” conduz esta ideia?
O autor nos conduz à ideia do Reino dos Céus a partir do olhar para nos mesmos: analisar nossos sentimentos, descobrir o que orienta as nossas ações, o nosso modo de viver, os nossos valores. Se recorrermos aos dizeres e à vivencia de Jesus, veremos que Ele deixou um roteiro para fazermos esse mergulho interior e ao final e ao cabo perceber que esse Reino dos Céus começa dentro de nós.
Na Grécia antiga, no antigo Templo de Apolo em Delfos, há uma inscrição que ainda hoje é objeto de reflexão:
“Advirto-te, sejas quem fores... Em ti se encontra oculto o tesouro dos tesouros!... Homem!... Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”.
Muito tempo depois Sócrates refletiria e nos faria refletir sobre essa inscrição (http://filosofiaespiritaencantamentoecaminho.blogspot.com.br/). “Conhece-te a ti mesmo”.
Ao nos conhecermos em profundidade veremos que, de fato, o tesouro dos tesouros que para mim pessoalmente trata-se do o Reino dos Céus mencionado pelo Mestre, encontra-se oculto dentro de cada ser humano.
A presença de Santo Agostinho na Codificação vem dar um significado mais amplo ainda a essa busca pelo autoconhecimento, na resposta à pergunta 919-A, de “O Livro dos Espíritos”, ao afirmar que “O conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual”, e exemplifica como alcançar esse Reino de paz.
Para isso é importante a fé raciocinada, porque somente através da razão, do conhecimento, poderemos analisar o sentido da vida, a finalidade de tudo.
2. O que representa para você o Reino dos Céus?
Certa feita, Jesus perguntou a Tadeu: - “qual o principal objetivo das atividades de tua vida”?
E Tadeu respondeu-lhe: - “Mestre, estou procurando realizar o Reino de Deus no coração”.
(Livro “Boa Nova” – Francisco Candido Xavier pelo Espírito Humberto de Campos).
Vejamos então que Jesus não perguntou qual o principal objetivo de tua vida, mas sim, qual o principal objetivo das atividades de tua vida. O Reino dos Céus pode, portanto, representar a paz interior alcançada, mesmo diante dos maiores desafios da vida, porque ancorada na certeza da imortalidade. E neste sentido, todas as atividades da minha vida, desde os simples afazeres domésticos até as tentativas de direcioná-las para a edificação desse Reino, que como diz o prof. Herculano Pires, é objetivo, concreto e pertence a este mundo.
A Doutrina Espírita nos proporciona uma melhor compreensão do “Conhece-te a ti mesmo”. Isso porque “a fé espírita é raciocinada, .....ela sustenta o ser em sua trajetória de luz”. (http://filosofiaespiritaencantamentoecaminho.blogspot.com.br/).
3. É possível implantar o Reino ainda hoje nos corações humanos?
Sim, é possível desde que comecemos por nos mesmos, também pelos exemplos à família e ao entorno e, por consequência, numa visão mais ampla, ao mundo. Transformemo-nos e transformaremos o mundo!
O processo é bastante longo, sem atalhos, pois que a edificação do Reino não comporta atalhos. Porém para implantá-lo é preciso desconstruir outros pequenos reinos que cultuamos há milênios, a exemplo, do reino do egoísmo; da preguiça; da discórdia; da inveja; etc., etc.
Para tanto, é preciso ver para além das aparências, ou seja, analisar profundamente tudo o que nos cerca metodicamente, pacientemente; trata-se do bom combate, como Paulo de Tarso definiu a sua própria existência, sem violências, embora as potestades do ar e da terra lutem com armas nada ortodoxas como a obsessão e o materialismo sempre crescentes no momento atual.
Para se chegar ao Reino só existe um meio: o roteiro traçado por Jesus. Qualquer outro meio que não este nos levará a atalhos infindáveis e obscuros; a ética e a moral são componentes preponderantes para se alcançar o Reino dos Céus.
Existem duas formas de “perder” a vida:
A primeira é agarrar-se às coisas transitórias;
A segunda é seguir o roteiro de luz que o Mestre nos deixou.
Assim como há duas formas de encontrar a vida.
A primeira é pela dor. Pela porta larga.
A segunda é pelo amor, posto que disse Jesus: “Aquele que perder a vida por Amor de mim, a encontrará”.
Portanto, para implantar o Reino é necessário que cada um de nós saiba qual é nossa finalidade no mundo; como é possível desvendar a nossa essência, ou como indagava Nietzsche: Como tornar-me aquilo que sou? Sabendo que somos filhos de Deus, herdeiros de tudo o que Ele criou e cria constantemente, sabendo que somos centelha divina, portanto, como tal, por que ajo de forma contrá ria? Por que odeio àquele que deveria considerar meu irmão? Por que ajo sem ética com aqueles que não pertencem ao meu grupo? Esse mundo que vivo agora é aparente ou real?
Muito interessante a reflexão de Leandro Chevitarese em:
(http://www.cpflcultura.com.br/2011/06/03/um-mundo-sem-finalidade-e-que-nao-segue-uma-ordem-moral-%e2%80%93-leandro-chevitarese-2/), de que precisamos sair da Caverna tão bem descrita por Platão, como alegoria da dualidade luz/sombras, o mundo das aparências, passar pelo período de libertação (como o próprio processo de autoconhecimento) e depois retornar à caverna com a intenção de mostrar através de uma nova ética, uma nova moral, que existe o mundo real e verdadeiro - o Reino.
Na Alegoria da Caverna podemos também fazer a seguinte reflexão: o próprio movimento de ir e vir das obscuridades que a caverna oculta, pode significar a volta para dentro de nós mesmos, o mergulho interior de onde emergiremos melhores.
No capítulo XXIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo – Moral estranha, Jesus nos aconselha a abandonar pai, mãe e filhos para vivenciar o Reino dos Céus desde aqui da Terra. Essa forte linguagem utilizada por Jesus para nos fazer meditar sobre o apego às coisas transitórias, inclusive a família carnal, é um exemplo do quanto devemos nos transformar para passarmos pela porta estreita,passagem esta onde só cabe uma pessoa por vez. Ao mesmo tempo somos advertidos de que ninguém pode ser feliz rodeado de infelicidade, ou seja, de que vale atingir o Reino sozinho?
Por isso a construção do Reino é ao mesmo tempo individual e coletiva.
Citações: PIRES, J.H., O REINO;
Revisão: Sonia Theodoro da Silva.